Ucrânia e Gaza. As posições dos principais partidos nas eleições de França

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Fotos: Unsplash | Edição: RTP

Os franceses voltam às urnas no próximo domingo, 30 de junho, três semanas depois das eleições europeias cujos resultados provocaram um terramoto político no país, levando Macron a convocar legislativas antecipadas, para 30 de junho e 7 de julho. Na última semana de campanha eleitoral, a RTP analisa os programas dos três grandes blocos que vão disputar a maioria na Assembleia para ajudar a perceber o que está em jogo. Ucrânia e Gaza, quais são as propostas dos partidos sobre estas questões internacionais?

As eleições legislativas antecipadas, agendadas para os próximos dois domingos, colocam em competição três grandes blocos com diferentes posições sobre os temas internacionais que marcam a atualidade, nomeadamente o conflito na Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

Vão a votos a Nova Frente Popular (NFP) - uma aliança de esquerda constítuida pela France Insoumise (LFI), o Partido Socialista, os Ecologistas e o Partido Comunista -, o partido de centro-direita Ensemble, que inclui o Renascença - do presidente Emmanuel Macron e do primeiro-ministro Gabriel Attal - o movimento Horizontes de Édouard Phillipe e o Modem de François Bayrou e o partido de extrema-direita Rassemblement National (RN) de Jordan Bardella e Marine Le Pen, com o apoio do presidente dos Republicanos, Éric Ciotti, contestado pelo seu partido que também vai a votos.
A guerra na Ucrânia

O conflito na Ucrânia desde a invasão pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, continua a dividir a esfera política francesa. Se a condenação do ataque de Moscovo a Kiev foi unânime desde o início, os meios que devem ser mobilizados para reforçar o apoio à Ucrânia e encontrar um caminho para a paz têm estado no centro do debate político. 

Sobretudo desde as declarações polémicas do presidente francês, Emmanuel Macron, que admitiu pela primeira vez no início deste ano não excluir o envio de tropas ocidentais para lutar no terreno contra a Rússia.
A guerra na Ucrânia esteve em destaque no último debate televisivo como conta o correspondente da RTP em Paris, José Manuel Rosendo

Nova Frente Popular

No seu programa, a nova aliança de esquerda apela à defesa da Ucrânia e da paz no continente europeu, assim como à "soberania e liberdade do povo ucraniano e integridade das suas fronteiras", através do fornecimento das "armas necessárias". Para travar a "guerra de agressão de Vladimir Putin", propõe a anulação da dívida externa, o confisco de bens dos oligarcas russos que "contribuem para o esforço de guerra" e o envio dos "Capacetes Azuis (forças da ONU) para proteger as centrais nucleares" na Ucrânia e "trabalhar para a paz" como mediador.

Ensemble pour la République

Já o partido do presidente e do primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, quer manter a linha traçada no último ano que reforça a posição de apoio da França à Ucrânia, nomedamente através do envio de aviões, armas e mísseis. Não excluindo o envio de instrutores franceses para a Ucrânia para treinar as forças ucranianas.

Rassemblement National

O partido de extrema-direita defende a manutenção do apoio à Ucrânia, com exceção do envio de mísseis de longo alcance, para "evitar qualquer risco de escalada". O presidente do partido, Jordan Bardella, defendeu na apresentação do programa o envio do apoio logístico e defensivo a Kiev, mas recusa-se a "enviar tropas" ou a fornecer equipamento militar que "poderia ter as consequências de uma escalada" ao atingir "diretamente cidades russas".
A guerra Israel-Hamas e o reconhecimento da Palestina
O conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano, Hamas, na Faixa de Gaza tornou-se um tema central durante a campanha eleitoral para as europeias e continua a estar presente no discurso e nos programas políticos para as legislativas. Desde o início da guerra no enclave palestiniano que o povo francês se tem manifestado em numerosas ações de protesto.

Que papel deve ter a França neste conflito, deverá apoiar Israel, reconhecer um Estado palestiniano, ou classificar o ataque ao povo palestiniano como um genocídio?


Nova Frente Popular

A coligação de esquerda apela a um "cessar-fogo imediato " em Gaza e indica uma série de medidas para a paz, incluindo a necessidade de libertar os reféns detidos pelo Hamas. No seu programa, a Nova Frente Popula pretende "romper com o apoio culposo" da França ao Governo israelita de Benjamin Netanyahu e decretar um embargo ao fornecimento de armas a Israel.

Na sequência dos mandados de captura emitidos pelo procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), em maio, apoiam a ação do TPI na sua ação penal tanto contra os dirigentes do Hamas como do executivo israelitas. Os partidos de esquerda defendem também  o "reconhecimento imediato" do Estado palestiniano "ao lado do Estado de Israel".

Ensemble pour la République

A coligação presidencial apela a um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza e à livre circulação da ajuda humanitária no enclave. Não apoia de imediato o reconhecimento de um Estado palestiniano, porque considera que "as condições não são adequadas".

Rassemblement National 

No extremo oposto, o partido de Marine Le Pen apoia incondicionalmente a operação militar de Israel em Gaza, por considerar que é uma "resposta absolutamente legítima" aos ataques terroristas cometidos pelo Hamas a 7 de outubro.

O partido de extrema-direita opõe-se ao reconhecimento de um Estado palestiniano na "situação atual" porque "seria reconhecer o terrorismo e isso seria conceder legitimidade política a uma organização cuja carta prevê a destruição do Estado de Israel", defendeu o seu líder e candidato a primeiro-ministro, Jordan Bardella, na apresentação do programa.
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